Imigração com responsabilidade: diálogo e propostas em defesa dos direitos dos imigrantes
No dia 11 de junho, a Imigra Foundation esteve presente em um importante encontro no The People’s Forum, em Manhattan, promovido pelo Projeto Entre Fronteiras. O evento reuniu lideranças da diáspora brasileira, representantes da comunidade imigrante e contou com a participação especial da Ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo.
Na ocasião, foram debatidas as recentes alterações nas políticas migratórias e a necessidade urgente de garantir serviços confiáveis, éticos e acessíveis, especialmente para imigrantes em situação de vulnerabilidade.
⚠️ A deportação não se encerra com o desembarque em um aeroporto. Seus impactos se prolongam, afetando profundamente as estruturas familiares, gerando sofrimento e impondo recomeços forçados.
Diante desse cenário, a CEO da Imigra Foundation, Kelly Fontoura, foi convidada para representar oficialmente a organização e conduziu um discurso contundente sobre os desafios da comunidade brasileira imigrante, a hipocrisia estrutural que sustenta o sistema atual e a urgência de ações concretas.
A seguir, compartilhamos na íntegra esse discurso, que emocionou os presentes e reforça nosso compromisso com a justiça migratória, a dignidade humana e o direito de existir.

Discurso oficial – Kelly Fontoura, CEO Imigra Foundation
É uma honra estar aqui representando a Imigra Foundation, uma organização sem fins lucrativos, reconhecida pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que atua na linha de frente da defesa dos direitos dos imigrantes, com atenção especial à nossa comunidade brasileira.
A Imigra Foundation oferece serviços legais de imigração com valores acessíveis, possibilidade de parcelamento e, em muitos casos, taxas reduzidas ou atendimento pro bono para famílias em situação de vulnerabilidade.
Nosso compromisso é garantir que ninguém deixe de buscar proteção ou regularização migratória por falta de recursos. Atuamos com seriedade, empatia e responsabilidade, sempre pautados na legalidade e na justiça social.
Estamos vivendo, neste momento, um dos capítulos mais sombrios da história migratória recente dos Estados Unidos.
O cenário que enfrentamos é resultado de décadas de omissão, de promessas não cumpridas, e da incapacidade dos governantes de chegar a um consenso sobre uma reforma imigratória que seja justa e humana.
Em vez da tão esperada reforma, o que presenciamos é uma escalada cruel de deportações em massa, sem critérios claros, sem compaixão, sem justiça.
Todos sabiam que as leis estavam quebradas, desatualizadas e ineficazes.
Mas mesmo assim… deixaram que o tempo passasse.
A omissão política foi encoberta por uma hipocrisia estrutural, que ao mesmo tempo condena os imigrantes indocumentados e se aproveita da sua força de trabalho para manter setores inteiros da economia em funcionamento.
É importante dizer, em alto e bom som:
Os imigrantes não são um peso. São uma força.
De acordo com o Instituto de Política Tributária (ITEP) e estudos do American Immigration Council, imigrantes indocumentados contribuem com quase 100 bilhões de dólares por ano em impostos.
Enquanto isso, o 1% mais rico da população evade ou não recolhe cerca de 163 bilhões de dólares anualmente, segundo o Departamento do Tesouro dos EUA.
Está claro:
Quem realmente se beneficia da desigualdade não são os imigrantes.
Na Imigra Foundation, ouvimos todos os dias histórias impressionantes. Histórias de resistência, de coragem, mas também de dor profunda e de sobrevivência.
Vidas estão sendo interrompidas de forma abrupta e brutal.
Brasileiros têm sido detidos por agentes mascarados, sem mandado judicial, em operações que ocorrem nas ruas ou até mesmo em suas próprias casas.
Muitos desses casos são prisões colaterais. Pessoas presas por estarem no lugar errado, na hora errada.
Essas pessoas são levadas para centros de detenção em outros estados, longe de suas famílias, sem acesso à assistência jurídica e sem qualquer tipo de apoio.
Dentro desses centros, a violência é constante, ainda que silenciosa.
Recebemos inúmeros relatos de tortura branca, formas de abuso institucional que não deixam marcas físicas, mas causam feridas profundas:
- isolamento prolongado,
- privação de alimentação adequada,
- ausência de luz natural,
- condições insalubres,
- humilhações psicológicas e
- ameaças verbais constantes.
Não estamos falando de criminosos.
Estamos falando de mães, pais, trabalhadores e jovens tratados como se não tivessem o direito de existir.
Tudo isso contraria tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, como a Convenção da ONU Contra a Tortura de 1984.
Essas pessoas não são números.
São vidas. São famílias.
Estamos falando de quem lavou pratos, construiu casas, cuidou dos idosos, preparou refeições — e continua invisível.
Vemos mulheres brasileiras sobrevivendo à violência doméstica, sem denunciar seus agressores, com medo de serem presas se forem à delegacia.
Estar fora de status migratório não é crime.
Imigrar é um direito humano.
E todo imigrante deveria estar protegido pela Constituição dos Estados Unidos — o que, infelizmente, deixou de ser uma garantia este ano.
Também temos observado o aumento de fraudes e golpes cometidos por falsos prestadores de serviços imigratórios, sem credencial legal.
Muitos brasileiros acabam vítimas de falsas promessas e abusos financeiros.
Propostas de ação direta apresentadas no evento
Diante de tantos relatos de dor, medo e incerteza, não podemos nos calar.
Por isso, a Imigra Foundation apresentou um conjunto de propostas de ação concreta, que incluem:
- Reforçar e ampliar os canais de atendimento consular emergencial para casos de detenção, violência e hospitalização;
- Fortalecer campanhas oficiais de informação e prevenção, com materiais bilíngues sobre direitos e riscos;
- Criar um Observatório da Comunidade Brasileira no Exterior, para monitoramento de dados e suporte a políticas públicas;
- Implementar um programa nacional de reintegração digna para deportados, com moradia, apoio psicológico e capacitação;
- Apoiar instituições comunitárias que atuam na linha de frente da proteção aos imigrantes;
- Estabelecer um canal permanente de diálogo entre o Itamaraty e a sociedade civil;
- Cobrar publicamente o governo dos EUA para respeitar os direitos humanos e cessar práticas desumanas de detenção.
Encerramento
“Ministra Macaé, que essa escuta não seja apenas simbólica. Que ela seja o início de ações concretas e firmes, em defesa da vida, da dignidade e da justiça.
Nossos imigrantes não vieram apenas para sobreviver. Vieram para viver. Com dignidade.
E nós, da Imigra Foundation, seguiremos firmes, de mãos dadas com os invisíveis, resistindo. Sempre.
Porque nenhum ser humano é ilegal.”
